quarta-feira, 17 de junho de 2009

Odisseia no Deserto [I]

Deco Muniz, um navegador e organizador de ralis brasileiro, escreveu um artigo para o sítio «Webventure» [http://www.zone.com.br/] em que nos dá conta de uma fantástica aventura vivida a bordo de um Škoda 1101, por Oldrich Kyllar e Jean Marek.

Oldrich Kyllar nasceu na Checoslováquia, em 22 de Abril de 1906. Engenheiro de profissão, e colaborador do império industrial Škoda, Kyllar viria a conhecer o Brasil em 1937, quando, ao serviços da empresa de Pilsen, veio a colaborar na instalação de uma fábrica de açúcar, no Recife. Durante esta passagem pelo Brasil, visitou diversas vezes o Rio de Janeiro, cidade pela qual se apaixonou, rendendo-se aos seus encantos.

Em 1941, Oldrich voltou para o seu país natal, tendo já em mente a concretização de dois grandes sonhos: atravessar o continente africano de automóvel e emigrar para o Brasil. Para o primeiro, contou desde logo com o entusiasmo do seu cunhado - Jean Marek -, que se ofereceu para o acompanhar na odisseia, dispondo-se a registar a aventura com a ajuda da sua nova máquina fotográfica.

A Škoda também se envolveria no apoio à aventura, vendendo um 1101 a Kyllar, a preço de custo. O resto foi conseguido à base de audácia e muita determinação, como o revela o diário de bordo redigido na primeira pessoa por Oldrich Kyllar. Ora veja:

«Janeiro

14/01/47
Saímos de Praga em direcção à Bavária, Alemanha. Porém, devido à neve e ao gelo, a estrada estava interrompida e fomos para Estugarda e depois passámos pelas cidades de Nuremberga, Estrasburgo e Lion, até alcançarmos Marselha. O sul de França estava agradável, primaveril, e viajámos sem casacos. Em Marselha começou a nevar (25 cm). Não se via neve há 40 anos, em Marselha. Obtivemos permissão para embarque através do consulado checo em Marselha. Havia muita curiosidade a nosso respeito. Emprestei o automóvel a redactores de revistas que gostaram muito da direcção leve e da boa potência do carro nas subidas.

28/01/47
Embarcámos no navio «Ville d’Oran». Estávamos ansiosos pela aventura. Durante a travessia fomos surpreendidos por vento forte, água nos camarotes e bagagens a flutuar. Ficou tudo molhado.

30/01/47
Chegámos às 17 horas a Alger. Até às 2 da madrugada tentámos encontrar um local para pernoitar. Escolhemos uma boa estalagem para descansar. De manhã, retirámos o carro que se encontrava em condições lamentáveis: o porta-bagagens fora arrombado e o relógio colocado por mim em Praga, tinha sido roubado. De seguida experimentámos o automóvel e verificámos o seu comportamento em pequenas excursões às vizinhanças. Procurei, sem sucesso, arranjar uma permissão militar de trânsito para África.»

[foto extraída de www.flickr.com]

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