segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diário de Bordo - Lisboa Bike Tour [III]

Já estava conformado a ir a pé até ao Pavilhão de Portugal, por isso, sabe-me particularmente bem voltar a pedalar e sentir uma brisa mais forte a lamber-me a cara. Vou numa toada calma, embora sem ser a 'pastelar', tendo em mente que não poderei mudar as velocidades. Tenho que poupar a mecânica… e as pernas. Já se vislumbra perto o viaduto principal da construção, com as suas enormes torres em forma de H. Na subida, o ritmo geral dos ciclistas abranda e a concentração volta a ser maior. Muita gente prefere parar. Outros seguem a pé. Tento não perder velocidade porque até à ‘Expo’ os únicos comandos do guiador que poderei utilizar são os travões. Felizmente, é sem esforço que persigo, até que vislumbro novo aglomerado de pessoas. Volto a imaginar tratar-se de um fornecimento de água, ou de qualquer outra coisa similar. Mas um emaranhado de bicicletas pousadas no chão e uma multidão particularmente inquieta fazem-me temer pelo pior. Sem parar, consigo ver entre múltiplas pernas de ciclistas dispostas em círculo, do que se trata. Com tanta gente ali, não há nada de útil que eu possa fazer. Infelizmente já ninguém podia fazer nada por aquele companheiro de jornada a quem foi confiada a derradeira pedalada da sua vida na Bike Tour. A sua partida teve como pano de fundo uma belíssima fusão do imenso estuário do Tejo com o Firmamento.

[…]

Continuo a pedalar, mas agora sem chama. Procuro concentrar-me noutros pensamentos, mesmo não sendo nada fácil. Porém, concluo que se há justa homenagem a prestar a este companheiro, é cortarmos a meta com um sorriso nos lábios, como, com certeza, gostaria de ter feito. Isto dá-me um novo alento e a descida é já feita a boa velocidade, sem pedalar. Lá ao longe, na saída para o Parque das Nações, o pelotão vai denso e há que redobrar atenções para com quem segue perto de mim. Novo tanque dos Bombeiros, embora já 'seco'. Ouvem-se gritos jocosos de protesto por não haver duche. Os soldados da paz sorriem, simpaticamente. Curva a descer. De repente uma jovem trava com a mão esquerda, bloqueando a roda dianteira. A bicicleta não se conforma e dá-lhe um forte coice, em jeito de catapulta, atirando-a para o asfalto, numa queda aparatosa. Multiplicam-se gritos de susto e também de aviso para que esta queda isolada não se transforme numa perigosa carambola. A jovem esfolada levanta-se num ápice. Está sorridente. E a ’caravana’ prossegue viagem. Vislumbram-se os primeiros espectadores ‘a sério‘. Até agora, os que tínhamos visto seguiam de carro na Ponte Vasco da Gama. Alguns tinham apitado de alegria, outros de protesto. Outros ainda tinham-nos esgrimido acenos ou palavras de incentivo. Mergulhamos definitivamente na paisagem urbana. A sombra das árvores adoça as subidas que, aqui e ali, pontuam o caminho. À medida que nos aproximamos do centro do Parque das Nações, recompõe-se o ambiente de festa. Num instante estamos ao pé do Pavilhão de Portugal. Passo sob o pórtico da chegada e relembro o companheiro que partiu, mas, a esta distância, não me lembro se consegui esboçar o prometido sorriso de chegada…

[…]

Passo em frente a uma espécie de palco, engalanado com plumas da Škoda. Ao fundo, curva à direita. Contemplo uma magnífica frota de Setas Aladas a brilhar ao sol, a bordejar a doca, e tento-me chegar à esquerda para lhe tirar uma derradeira fotografia. Sou corrido pelos seguranças que, pela cor do meu dorsal, me impelem a entrar prontamente para um parque fechado, nas traseiras do Pavilhão de Portugal. Um steward pergunta-me se lhe quero confiar a bicicleta. Pergunto-lhe o que se passará de seguida. Diz-me que não se passa nada, que me posso ir embora. Olho em redor. Os poucos participantes que ali se encontram estão sentados à sombra do edifício, desgastados, a retemperar energias. Fico na dúvida se não haverá qualquer coisa no Pavilhão de Portugal, mas como tenho um almoço de Família hesito em investigar e decido regressar ao carro. Tenho pena de não ter podido agradecer pessoalmente à Equipa Škoda, da SIVA, por me ter proporcionado mais esta magnífica experiência timbrada com o bravo selo da Seta Alada. A todos, o meu reconhecido obrigado! Foi fantástico!

[fotos: joão]

*Já a deambolar pela cidade, para me juntar à Família, parei num semáforo, junto a um entroncamento com a Avenida de Berlim. Enquanto aguardo pela mudança de sinal, começo a ver uma bicicleta da Bike Tour a vencer destemidamente a adversidade da topografia local. Aos comandos do velocípede, uma jovem ciclista enverga uma briosa camisola da Seta Alada, exibindo uma admirável compleição para quem acaba de completar a Lisboa Bike Tour. De facto, a energia da Škoda é de uma fibra superior...

Sem comentários: