Se a minha bicicleta não me pode levar até ao fim, levo-a eu, nem que seja às cavalitas. Envergo a camisola da Seta Alada e isso é o suficiente para me atirar para a estrada com um ânimo renovado. Aliás, mesmo a pé, a experiência vai ser bem divertida. Sinto-o já! A forma como bebo a paisagem é agora muito mais presenteira. Tenho um postal da parte oriental de Lisboa à minha esquerda e um oceano dentro do rio, à minha direita. E com uma suave brisa a afagar-me a face suada, gozo os prazeres da jornada. Aqui e ali ultrapasso ciclistas que pararam para descansar. Outros bebem água ou comem qualquer coisa. Outros ainda, preferem a magra sombra dos candeeiros para se deleitarem num pequeno compasso de frescura, antes de se voltarem a fazer à estrada. Sigo a bom ritmo, sou refrescado por um duche com a assinatura dos bombeiros, e constato que muitos ciclistas que por mim passam, nesta fase da prova, viajam numa cadência tão descontraída que não seria necessário correr muito para os apanhar. Já fiz uns milhares de metros de mão dada com a minha bicicleta, quando vejo ao longe uma pequena aglomeração de participantes em torno de uma carrinha. Imagino que seja um ponto de distribuição de água, ou de barras energéticas. Mas ao aproximar-me do ajuntamento verifico tratar-se de um posto de assistência técnica e, por isso, decido tentar a minha sorte. Enquanto espero a minha vez, como a barra que a Škoda me entregara junto ao Pavilhão de Portugal. Acho que tomei o repasto na hora H, porque acabei por nunca sentir fraqueza durante toda a prova.
Os dois mecânicos da Sportis, com as suas batas vermelhas, não têm mãos a medir. Afinações de transmissões e mudanças de rodas são as solicitações mais comuns, a que dão resposta a uma velocidade digna de registo. Sobretudo tendo em conta que os ‘empanados’ fazem uma espessa cortina em seu redor, não deixando passar a mínima brisa para a área de trabalho, o que torna o seu ofício num autêntico suplício. Chega a minha vez: o mecânico que me atende protesta com o bico de obra que lhe apresento. O outro diz-lhe que há correntes novas na carrinha. Mas ao primeiro falta-lhe um ‘descravador de correntes’. Está tudo estragado! Quando nada o fazia prever, encontro um posto de assistência com pessoal qualificado, uma miríade de ferramentas e centenas de peças de substituição, entre as quais uma corrente nova. Mas no meio de tanto material, falta a única ferramenta que permitiria substituir a minha corrente defeituosa. Não faz mal, volto para a estrada. Até que de trás de mim se ouve uma jovem voz dirigir-se ao mecânico: «o que o senhor precisa não será um […]?» e dispara um jargão técnico de que não me recordo o nome. A resposta foi pronta: «não, o que eu precisava era de um descravador de correntes!» Olho para trás. Um jovem na casa dos 18, 20 anos não se resigna com a refutação e, com a maior das tranquilidades, retira da sua mochila a ferramenta que devolverá a minha bicicleta à estrada. Mas agora é a corrente que não aparece. Depois de uma luta contra rodas, pneus, cabos, porcas, pedaleiras, caixotes e afins, o segundo mecânico lá encontra a dita corrente e regressa disposto a dar nova vida à minha bicicleta. Depois da reparação, experimenta uma mudança de velocidade… tudo desengrenado de novo. O seu olhar impassível é tranquilizador. Coloca tudo no devido lugar enquanto o diabo esfrega um olho e de chave de fendas na mão procede a uma rápida afinação final. Está muita gente à espera e por isso despede-se sem ter tempo de deixar a máquina a trabalhar como um relógio suiço: «Oh amigo, vá por aí acima sempre na mesma velocidade». Agradeço aos mecânicos, relembrando que o 'descravador' metido à pressa no bolso de uma das batas é propriedade do prevenido jovem que mudou o curso da minha jornada. Agradeço-lhe também, reconhecido. Sigo viagem.
Os dois mecânicos da Sportis, com as suas batas vermelhas, não têm mãos a medir. Afinações de transmissões e mudanças de rodas são as solicitações mais comuns, a que dão resposta a uma velocidade digna de registo. Sobretudo tendo em conta que os ‘empanados’ fazem uma espessa cortina em seu redor, não deixando passar a mínima brisa para a área de trabalho, o que torna o seu ofício num autêntico suplício. Chega a minha vez: o mecânico que me atende protesta com o bico de obra que lhe apresento. O outro diz-lhe que há correntes novas na carrinha. Mas ao primeiro falta-lhe um ‘descravador de correntes’. Está tudo estragado! Quando nada o fazia prever, encontro um posto de assistência com pessoal qualificado, uma miríade de ferramentas e centenas de peças de substituição, entre as quais uma corrente nova. Mas no meio de tanto material, falta a única ferramenta que permitiria substituir a minha corrente defeituosa. Não faz mal, volto para a estrada. Até que de trás de mim se ouve uma jovem voz dirigir-se ao mecânico: «o que o senhor precisa não será um […]?» e dispara um jargão técnico de que não me recordo o nome. A resposta foi pronta: «não, o que eu precisava era de um descravador de correntes!» Olho para trás. Um jovem na casa dos 18, 20 anos não se resigna com a refutação e, com a maior das tranquilidades, retira da sua mochila a ferramenta que devolverá a minha bicicleta à estrada. Mas agora é a corrente que não aparece. Depois de uma luta contra rodas, pneus, cabos, porcas, pedaleiras, caixotes e afins, o segundo mecânico lá encontra a dita corrente e regressa disposto a dar nova vida à minha bicicleta. Depois da reparação, experimenta uma mudança de velocidade… tudo desengrenado de novo. O seu olhar impassível é tranquilizador. Coloca tudo no devido lugar enquanto o diabo esfrega um olho e de chave de fendas na mão procede a uma rápida afinação final. Está muita gente à espera e por isso despede-se sem ter tempo de deixar a máquina a trabalhar como um relógio suiço: «Oh amigo, vá por aí acima sempre na mesma velocidade». Agradeço aos mecânicos, relembrando que o 'descravador' metido à pressa no bolso de uma das batas é propriedade do prevenido jovem que mudou o curso da minha jornada. Agradeço-lhe também, reconhecido. Sigo viagem.
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