No Parque das Nações, em Lisboa, o dia começou com um alvor particularmente colorido. Gente envergando camisolas com timbres das mais diversas marcas, agitava-se contente por entre amplas alamedas, devidamente engalanadas para a ocasião. Entre os inscritos na Bike Tour, trocavam-se abertos sorrisos, ansiosos pelo ‘tiro’ da partida.
Uma banca engalanada a plumas da Seta Alada, junto a essa pérola patrimonial que é o belíssimo Pavilhão de Portugal, acolhia simpaticamente os privilegiados que iriam defender as cores da mais fantástica das marcas em contenda. Marcaram-se presenças, trocaram-se impressões, reviram-se amigos e ajeitaram-se equipamentos, até soar a chamada para os autocarros que nos levariam ao tabuleiro da mais longa ponte da Europa - aquele que seria o cenário maior de grande parte da prova.
Aos poucos os autocarros vão galgando o tórrido asfalto da Vasco da Gama, dirigindo-se em sentido oposto ao da marcha do evento. Passamos, em faixas contrárias, por carros de apoio, vemos o pórtico da partida e mergulhamos numa paisagem ululante, de onde sobressaem milhares de capacetes coroados a Setas Aladas, enleados num mar de velocípedes. Sobe a adrenalina.
Descemos do autocarro. Uma miríade de bicicletas Sportis, embelezada a logótipos Škoda, bordeja os rails do tabuleiro. Cada um pega num engenho. Baixam-se pedais, acertam-se selins. Dá-se uma última vista de olhos à mochila e ajustam-se capacetes. Ah, ainda temos tempo para uma ou duas fotos da prache. Ouvem-se piadas, trocam-se impressões com companheiros de aventura. Os altifalantes ecoam músicas a apregoar felicidades, entrecortadas por informações, gritos de ordem e piadas debitadas em bom ritmo pelo frenético animador de ocasião. Segue-se a desejada ordem para a concentração junto à partida. Damos as primeiras pedaladas. Parecemos formigas inquietas ansiosas pelo irromper do enxame… Partida!
Um, dois, três metros volvidos… há sorrisos. Nos primeiros minutos o ritmo é lento e todos os cuidados são poucos. Ciclistas pouco treinados guinam para a esquerda e para a direita com mais frenesim do que dão aos pedais. Muitos não evitam toques nos parceiros. Outros acabam com os pés no chão. Tenho sorte e vou escapando às entropias iniciais da torrente, com uma tranquilidade confiante. Sinto que algo não está bem com a transmissão, mas imagino que é mais aselhice minha do que defeito da máquina. E para já continuo a rolar, mesmo que com alguns soluços. E isso é que importa. Lá à frente, a cabeça do pelotão já venceu a primeira bossa da ponte. Eu estou um pouco mais atrás, mas aos poucos vou conquistando mais espaço em redor e pedalo com mais arejo. Ganho velocidade, nova passagem de caixa, os ruídos não são promissores, mas deixo-me ir. Subo outra mudança, agora que tenho mais amplidão para o fazer. Mas o relutante mecanismo devolve-me uma catadupa de ruídos, seguido do típico pedalar em falso. Resta-me rumar em ’ponto morto’ até à berma. A corrente inebriada enrolou-se nas fendas mais reconditas do engenho. Aqui não há ‘Assistência em Viagem’, como na Škoda... Viro a bicicleta de pernas para o ar. Debato-me com a máquina, mas a coisa não está fácil. Os minutos vão-se passando lentamente. Felizmente, ali mesmo ao lado, no asfalto, a festa continua bem viva. Um generoso companheiro de jornada, que não me conhece de lado nenhum, vem-me observando de longe e decide interromper a sua prova para me prestar ajuda. Percebe-se que percebe da coisa e isso é bom. Mas uns segundos depois dispara: «a coisa não está fácil». Vai dando pancadas secas aqui e acolá. Crava os dedos na corrente emaranhada e, por fim, consegue devolvê-la aos carretos. Quase nem tenho tempo para lhe agradecer porque, de repente, já pedala na faixa de rodagem. Ainda olha para trás e devolve-me um sorriso. Volto contente para a minha montada. Meia-pedalada depois acaba-se o festim. De novo com a bicicleta a fazer o pino, constato que a corrente está mais fácil de domar do que da primeira vez. Sigo mais um metro, mas o engenho está definitivamente enguiçado… Coloco novamente a corrente no sítio e observo o empeno letal de alguns dos seus elos, situação que se terá seguramente agravado na primeira pane. Não há nada a fazer. Ou melhor, há. E muito!
Uma banca engalanada a plumas da Seta Alada, junto a essa pérola patrimonial que é o belíssimo Pavilhão de Portugal, acolhia simpaticamente os privilegiados que iriam defender as cores da mais fantástica das marcas em contenda. Marcaram-se presenças, trocaram-se impressões, reviram-se amigos e ajeitaram-se equipamentos, até soar a chamada para os autocarros que nos levariam ao tabuleiro da mais longa ponte da Europa - aquele que seria o cenário maior de grande parte da prova.
Aos poucos os autocarros vão galgando o tórrido asfalto da Vasco da Gama, dirigindo-se em sentido oposto ao da marcha do evento. Passamos, em faixas contrárias, por carros de apoio, vemos o pórtico da partida e mergulhamos numa paisagem ululante, de onde sobressaem milhares de capacetes coroados a Setas Aladas, enleados num mar de velocípedes. Sobe a adrenalina.
Descemos do autocarro. Uma miríade de bicicletas Sportis, embelezada a logótipos Škoda, bordeja os rails do tabuleiro. Cada um pega num engenho. Baixam-se pedais, acertam-se selins. Dá-se uma última vista de olhos à mochila e ajustam-se capacetes. Ah, ainda temos tempo para uma ou duas fotos da prache. Ouvem-se piadas, trocam-se impressões com companheiros de aventura. Os altifalantes ecoam músicas a apregoar felicidades, entrecortadas por informações, gritos de ordem e piadas debitadas em bom ritmo pelo frenético animador de ocasião. Segue-se a desejada ordem para a concentração junto à partida. Damos as primeiras pedaladas. Parecemos formigas inquietas ansiosas pelo irromper do enxame… Partida!
Um, dois, três metros volvidos… há sorrisos. Nos primeiros minutos o ritmo é lento e todos os cuidados são poucos. Ciclistas pouco treinados guinam para a esquerda e para a direita com mais frenesim do que dão aos pedais. Muitos não evitam toques nos parceiros. Outros acabam com os pés no chão. Tenho sorte e vou escapando às entropias iniciais da torrente, com uma tranquilidade confiante. Sinto que algo não está bem com a transmissão, mas imagino que é mais aselhice minha do que defeito da máquina. E para já continuo a rolar, mesmo que com alguns soluços. E isso é que importa. Lá à frente, a cabeça do pelotão já venceu a primeira bossa da ponte. Eu estou um pouco mais atrás, mas aos poucos vou conquistando mais espaço em redor e pedalo com mais arejo. Ganho velocidade, nova passagem de caixa, os ruídos não são promissores, mas deixo-me ir. Subo outra mudança, agora que tenho mais amplidão para o fazer. Mas o relutante mecanismo devolve-me uma catadupa de ruídos, seguido do típico pedalar em falso. Resta-me rumar em ’ponto morto’ até à berma. A corrente inebriada enrolou-se nas fendas mais reconditas do engenho. Aqui não há ‘Assistência em Viagem’, como na Škoda... Viro a bicicleta de pernas para o ar. Debato-me com a máquina, mas a coisa não está fácil. Os minutos vão-se passando lentamente. Felizmente, ali mesmo ao lado, no asfalto, a festa continua bem viva. Um generoso companheiro de jornada, que não me conhece de lado nenhum, vem-me observando de longe e decide interromper a sua prova para me prestar ajuda. Percebe-se que percebe da coisa e isso é bom. Mas uns segundos depois dispara: «a coisa não está fácil». Vai dando pancadas secas aqui e acolá. Crava os dedos na corrente emaranhada e, por fim, consegue devolvê-la aos carretos. Quase nem tenho tempo para lhe agradecer porque, de repente, já pedala na faixa de rodagem. Ainda olha para trás e devolve-me um sorriso. Volto contente para a minha montada. Meia-pedalada depois acaba-se o festim. De novo com a bicicleta a fazer o pino, constato que a corrente está mais fácil de domar do que da primeira vez. Sigo mais um metro, mas o engenho está definitivamente enguiçado… Coloco novamente a corrente no sítio e observo o empeno letal de alguns dos seus elos, situação que se terá seguramente agravado na primeira pane. Não há nada a fazer. Ou melhor, há. E muito!
Sem comentários:
Enviar um comentário