Porque era robusto, prático, fiável, económico e dos mais baratos, o meu avô João foi à Avenida Dr. Lourenço Peixinho e no concessionário da Škoda, a Recordauto Lda, comprou uma Škoda Octavia Combi de cor vermelha, por trinta mil escudos.
Comprar um automóvel há 50 anos não era fácil como nos tempos de hoje. Um carro era para a vida, se não desse grandes problemas. E foi o que aconteceu à Combi. Para o meu avô João, a Škoda era o melhor carro do mundo. Pelo meio ainda apareceu um Ford Taunus que depressa desapareceu. Nada destronava a incansável trabalhadora Octavia. Automóvel familiar onde viajavam seis ou sete adultos e mais os três netos na mala. Recorde-se que não existia a lotação máxima na lei. Se ao Domingo era dia de passeio com a família, ou em Agosto era o mês do campismo, todos os outros dias eram dias de trabalho. Rebatendo os bancos traseiros, lá cabiam os sacos de adubo, os troncos de pinheiro, as alfaias ou os cestos da vindima. Mas como a gasolina Normal já não era barata, teria que se poupar nas viagens. Então com uma grade no tejadilho, mais umas centenas de quilos podiam viajar até ao seu destino.
Škoda já é um nome a que nos habituámos, tal é a quantidade de automóveis com este símbolo que circulam nas nossas estradas. Uma das quatro marcas de automóveis com mais de cem anos, a Škoda teve a sua origem no antigo Império Austro-Húngaro, hoje República Checa. Responsável pela construção de automóveis de luxo e populares, a história da Škoda é a história da Europa do Séc. XX. Atravessou as duas Grandes Guerras, foi nacionalizada com o Regime Socialista, assistiu à queda do Muro de Berlim e à Revolução de Veludo e por fim integrou-se na economia de mercado. A tudo isto, a Škoda resistiu e nunca deixou de produzir automóveis. Em 1989 foi adquirida pelo Grupo Volkswagen, mas nunca perdeu a sua autonomia e independência. Aliás, os engenheiros e técnicos da Mladá Boleslav, cidade onde nasceu a Škoda, são conhecidos pelo seu alto grau de profissionalismo e inovação.
O primeiro Octavia, lançado em Janeiro de 1959, era, na verdade, um facelift do Škoda 440, ao qual tinham sido introduzidas algumas alterações estilísticas importantes, com principal destaque para a nova grelha frontal [da qual desapareciam os característicos bigodes do 440], e para um novo painel de instrumentos, de design menos elaborado que o precedente. Porém, o renovado modelo também introduzia novidades significativas do ponto de vista mecânico, com a integração de uma suspensão dianteira totalmente remodelada, que substituía a anacrónica mola transversal de lâminas por molas helicoidais e amortecedores telescópicos.
Com o cessar da produção da Octavia Combi, em 1971, esta designação de sucesso passaria por um longo período de 'cativeiro', só vindo a ser recuperada já depois de 1989. Porém, teve a honra de baptizar o primeiro modelo a ser totalmente desenvolvido sob o comando e os padrões qualitativos do Grupo Volkswagen. O resto da história todos nós conhecemos - uma história feita de grandezas à qual não são alheias as elevadíssimas qualidades dos automóveis que ostentam este nome - sem dúvida, uma inalienável herança legada pelo eterno Octavia de 1959.
Para assinalar os 50 anos, a Škoda lançou um renovado Octavia. Fiel à história e vanguardista quanto ao futuro, o novo Octavia é um automóvel de eleição. Sempre com as mesmas premissas de fiabilidade e robustez, o actual Octavia é também económico, ecológico e construído sob os mais altos padrões de qualidade.
Não sei se as mais altas tecnologias seriam suficientes para convencer o meu avô João a trocar a antiga Octavia por uma novíssima Octavia. Para quem gosta de automóveis a Škoda é como a maçã do pecado, quando se dá a primeira trinca…
Mas a velhinha Octavia, onde o número de quilómetros se perdeu com os anos, ainda respira um bom respirar. Vaidosa por ser a única Aveirense em que as rodas ainda se fazem ao asfalto [pelo que se sabe], e comprada na nobre e majestosa Avenida Lourenço Peixinho dos anos 60, a Octavia, como a Octavia da actualidade, é um automóvel cheio de charme.
São só 50 anos!
[foto: Skoda Auto]
1 comentário:
Grande viagem aos Algarves quando ainda não havia o chamado " stress ", e o tempo era quase ilimitado.
Cunha
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