quarta-feira, 7 de setembro de 2011

«Mission... Impossible»?

Nos últimos meses tem-se intensificado a divulgação cibernáutica de conteúdos em torno do veículo compacto que a Skoda irá lançar para fazer a ponte entre as gamas Fabia e Octavia. Com a divulgação das primeiras fotos e de alguns [escassos] dados oficiais, parecem começar a clarificar-se, por fim, os contornos definitivos de tão importante automóvel.

Para já sabemos, de fonte oficial, que as variantes global e indiana serão distintas entre si, o que vem confirmar o já conhecido perfil do 'Lauretta', sem que tal impeça consideráveis diferenças face à versão de produção do «MissionL».

Com os dados de que dispomos, parece-nos óbvia a evolução por dois caminhos distintos: para a versão indiana a Skoda partiu da base mecânica do VW Vento e do idioma linguístico do Fabia para propor um automóvel capaz de arrasar no segundo país mais populoso do mundo. Note-se que, numa economia emergente – onde o preço é um fator preponderante – a Skoda tem que se impor com uma proposta ganhadora nesse domínio pelo que, fruto das sinergias colhidas, estará em condições de oferecer mais automóvel por menos dinheiro. Num mercado onde o Fabia tem cotação premium e onde o Vento se tem imposto na categoria das berlinas compactas, parece-nos que o 'Lauretta' terá mais do que robustecidas condições para esmagar a concorrência.

Por outro lado, e para os restantes mercados, - bastante heterogéneos entre si, por sinal - a Skoda, com o «MissionL» de estrada, parece procurar um ponto de equilíbrio olímpico, ao oferecer um novo conceito [e não apenas mais um automóvel], num segmento que tem muito para dar à marca. E vice-versa. Eis, pois, a nossa própria interpretação do assunto:

A verdade é que no segmento do Golf a resposta da marca da Seta Alada começou por fazer-se com o Octavia mas, fruto do tipo de carroçarias adotadas e, sobretudo, da excelência das propostas, o mais bem sucedido dos modelos Skoda cedo se destacou do seu primo germânico, imiscuindo-se em segmentos superiores com invulgar mestria. Ou seja, por mérito próprio, o Octavia passou a girar noutra esfera, distanciando-se progressivamente das suas origens, em voos cada vez mais altos. Por outro lado o Fabia, sendo um dos melhores e mais espaçosos utilitários do mercado, nunca enjeitou fazer mossa aos compactos do segmento acima. E fá-lo com todo o mérito. Porém, há que reconhecê-lo, para continuar a garantir os louros da esfera dos utilitários, com vendas em crescendo e uma invejável maturidade, o Fabia não poderá renegar as caraterísticas-chave da classe em que nasceu. Agrava-se assim um mais que evidente hiato entre as gamas Fabia e Octavia – algo que o Grupo VAG sempre renegou com receio da inevitável agitação que uma proposta da casa da Seta Alada poderia trazer para o segmento, com temíveis sequelas para o referencial Golf.

À sua peculiar maneira, isto é, de forma particularmente inteligente, a Skoda encontrou espaço para uma saída que se adivinha brilhante. Tudo começará, especulamos nós, com o lançamento de uma berlina de 5 portas, dimensionalmente a 3/4 de caminho entre o Fabia e o Octavia. A apetência dos mercados da europa central e de leste, bem como dos asiáticos, por este tipo de carroçaria acaba por ser o ponto de partida para outras ambições. Porém, a atratividade do produto será tal e a generosidade interior da proposta checa tão evidente que as famílias e as empresas dos mercados ocidentais também não ficarão indiferentes ao modelo. Até porque o desenho elegante, intemporal e cuidado do automóvel será galvanizador dos maiores elogios [já está a sê-lo!]. Por outro lado, num segmento tão competitivo, a Skoda terá necessariamente que fazer a diferença e aí joga-se uma cartada de trunfos – a marca de Mladá Boleslav irá propor muito mais automóvel por menos recursos. Estamos a falar de mais qualidade, mais espaço, mais economia e mais atratividade. Por menos dinheiro. Não só na hora de adquirir, como também de utilizar e de manter. Mas como? Propondo uma base mecânica um pouco diversa da do Golf – tecnicamente menos complexa – logo, mais económica -, mas igualmente eficiente. Será possível? Sim! E a resposta até já foi parcialmente ensaiada no Jetta americano, a quem – especulamos nós – o «MissioL» irá buscar o robusto chassi com 2.65m de distância entre eixos, a combinação do trem dianteiro McPherson com a suspensão traseira semi-independente e os travões de trás específicos, para lá da 'importação' direta das portas e dos espelhos retrovisores. Resta saber se o aumento massivo das vias face à variante europeia do Jetta também será [ou não] aplicada no modelo checo. Porém, numa observação fria, tudo isto poderá soar a um downgrade face à sofisticação europeia do Golf VI. Diga-se aqui a verdade: a tecnologia é apenas um meio para atingir um fim. Mesmo que seja um argumento de marketing não negligenciável para o consumidor europeu, mais focado em caraterísticas técnicas. Contudo, e em bom rigor, não há garantias de que uma maior complexidade mecânica resulte invariavelmente em melhores resultados. E em última instância o que conta são mesmo os resultados. Para darmos um exemplo concreto, regressamos à América para estabelecemos um novo paralelo. Aquando do lançamento do Jetta americano, James R. Healey, jornalista ao serviço do «USA Today», ao ter conhecimento das caraterísticas técnicas do novo automóvel, desconfiou prontamente do novo layout mecânico da berlina VW. Relembre-se que, face à geração precedente e à presente versão europeia, se perdera uma suspensão traseira multi-link e um sistema de travões traseiros baseado em discos. Porém, em estrada e em condições reais de condução, Healey ficou estupefato com o comportamento do carro: a compleição de movimentos, a segurança em manobras de emergência e o conforto a bordo não foram minimamente beliscados com as novas opções técnicas adotadas. Por outro lado, o aumento do espaço interior e a redução de preço em de cerca de 10% face ao anterior modelo foram acolhidos com particular vivacidade.

Parece-nos, pois, que o caminho da Skoda poderá passar por aqui. Sem deixar de contar, contudo, com aquela centelha extra de saber que só os engenheiros de Mladá Boleslav parecem imprimir aos seus produtos. Mas nós vamos mais longe e queremos mesmo acreditar que ao «MissionL» [será o 'L' de limousine?], se seguirão um «MissionC» [de Combi] e outro H de [Hatchback] – este último em jeito de sequela direta do «VisionD». Mission Impossible? Não nos parece... Estamos a falar da Skoda.

Mais informações em:

[foto: Skoda Auto]

Sem comentários: