Nos últimos meses tem-se intensificado
a divulgação cibernáutica de conteúdos em torno do veículo
compacto que a Skoda irá lançar para fazer a ponte entre as gamas
Fabia e Octavia. Com a divulgação das primeiras fotos e de alguns
[escassos] dados oficiais, parecem começar a clarificar-se, por fim, os
contornos definitivos de tão importante automóvel.
Para já sabemos, de fonte oficial, que
as variantes global e indiana serão distintas entre si, o que vem
confirmar o já conhecido perfil do 'Lauretta', sem que tal
impeça consideráveis diferenças face à versão de produção do
«MissionL».
Com os dados de que dispomos,
parece-nos óbvia a evolução por dois caminhos distintos: para a
versão indiana a Skoda partiu da base mecânica do VW Vento e do
idioma linguístico do Fabia para propor um automóvel capaz de
arrasar no segundo país mais populoso do mundo. Note-se que, numa
economia emergente – onde o preço é um fator preponderante – a
Skoda tem que se impor com uma proposta ganhadora nesse domínio pelo
que, fruto das sinergias colhidas, estará em condições de oferecer
mais automóvel por menos dinheiro. Num mercado onde o Fabia tem
cotação premium e onde o Vento se tem imposto na categoria das
berlinas compactas, parece-nos que o 'Lauretta' terá mais do que
robustecidas condições para esmagar a concorrência.
Por outro lado, e para os restantes
mercados, - bastante heterogéneos entre si, por sinal - a Skoda, com
o «MissionL» de estrada, parece procurar um ponto de equilíbrio
olímpico, ao oferecer um novo conceito [e não apenas mais um
automóvel], num segmento que tem muito para dar à marca. E
vice-versa. Eis, pois, a nossa própria interpretação do assunto:
A verdade é que no segmento do Golf a
resposta da marca da Seta Alada começou por fazer-se com o Octavia
mas, fruto do tipo de carroçarias adotadas e, sobretudo, da
excelência das propostas, o mais bem sucedido dos modelos Skoda cedo
se destacou do seu primo germânico, imiscuindo-se em segmentos
superiores com invulgar mestria. Ou seja, por mérito próprio, o
Octavia passou a girar noutra esfera, distanciando-se
progressivamente das suas origens, em voos cada vez mais altos. Por
outro lado o Fabia, sendo um dos melhores e mais espaçosos
utilitários do mercado, nunca enjeitou fazer mossa aos compactos do
segmento acima. E fá-lo com todo o mérito. Porém, há que
reconhecê-lo, para continuar a garantir os louros da esfera dos
utilitários, com vendas em crescendo e uma invejável maturidade, o
Fabia não poderá renegar as caraterísticas-chave da classe em que
nasceu. Agrava-se assim um mais que evidente hiato entre as gamas
Fabia e Octavia – algo que o Grupo VAG sempre renegou com receio da
inevitável agitação que uma proposta da casa da Seta Alada poderia
trazer para o segmento, com temíveis sequelas para o referencial
Golf.
À sua peculiar maneira, isto é, de
forma particularmente inteligente, a Skoda encontrou espaço para uma
saída que se adivinha brilhante. Tudo começará, especulamos nós,
com o lançamento de uma berlina de 5 portas, dimensionalmente a 3/4 de
caminho entre o Fabia e o Octavia. A apetência dos mercados da
europa central e de leste, bem como dos asiáticos, por este tipo de
carroçaria acaba por ser o ponto de partida para outras ambições. Porém, a atratividade do produto será tal e a generosidade interior da proposta checa tão evidente que as famílias
e as empresas dos mercados ocidentais também não ficarão
indiferentes ao modelo. Até porque o desenho elegante, intemporal e
cuidado do automóvel será galvanizador dos maiores elogios [já está a sê-lo!]. Por
outro lado, num segmento tão competitivo, a Skoda terá
necessariamente que fazer a diferença e aí joga-se uma cartada de
trunfos – a marca de Mladá Boleslav irá propor muito mais automóvel por menos recursos. Estamos a falar de mais qualidade, mais
espaço, mais economia e mais atratividade. Por menos dinheiro. Não
só na hora de adquirir, como também de utilizar e de manter. Mas
como? Propondo uma base mecânica um pouco diversa da do Golf –
tecnicamente menos complexa – logo, mais económica -, mas
igualmente eficiente. Será possível? Sim! E a resposta até já foi
parcialmente ensaiada no Jetta americano, a quem – especulamos nós
– o «MissioL» irá buscar o robusto chassi com 2.65m de distância entre
eixos, a combinação do trem dianteiro McPherson com a suspensão
traseira semi-independente e os travões de trás específicos, para
lá da 'importação' direta das portas e dos espelhos retrovisores.
Resta saber se o aumento massivo das vias face à variante europeia
do Jetta também será [ou não] aplicada no modelo checo. Porém, numa
observação fria, tudo isto poderá soar a um downgrade face à
sofisticação europeia do Golf VI. Diga-se aqui a verdade: a tecnologia é apenas um meio
para atingir um fim. Mesmo que seja um argumento de marketing não negligenciável para o consumidor europeu, mais focado em caraterísticas técnicas. Contudo, e em bom rigor, não há garantias de que uma
maior complexidade mecânica resulte invariavelmente em melhores
resultados. E em última instância o que conta são mesmo os resultados. Para darmos um exemplo concreto, regressamos à América para estabelecemos um novo paralelo.
Aquando do lançamento do Jetta americano, James R. Healey,
jornalista ao serviço do «USA Today», ao ter conhecimento das
caraterísticas técnicas do novo automóvel, desconfiou prontamente
do novo layout mecânico da berlina VW. Relembre-se que, face à
geração precedente e à presente versão europeia, se perdera uma suspensão traseira multi-link e
um sistema de travões traseiros baseado em discos. Porém, em
estrada e em condições reais de condução, Healey ficou estupefato
com o comportamento do carro: a compleição de movimentos, a
segurança em manobras de emergência e o conforto a bordo não foram
minimamente beliscados com as novas opções técnicas adotadas. Por
outro lado, o aumento do espaço interior e a redução de preço em de cerca de 10% face ao anterior
modelo foram acolhidos com particular vivacidade.
Parece-nos, pois, que o caminho da Skoda
poderá passar por aqui. Sem deixar de contar, contudo, com aquela
centelha extra de saber que só os engenheiros de Mladá Boleslav
parecem imprimir aos seus produtos. Mas nós vamos mais
longe e queremos mesmo acreditar que ao «MissionL» [será o 'L' de
limousine?], se seguirão um «MissionC» [de Combi] e outro H de
[Hatchback] – este último em jeito de sequela direta do «VisionD».
Mission Impossible? Não nos parece... Estamos a falar da Skoda.
Mais informações em:
[foto: Skoda Auto]
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