terça-feira, 25 de setembro de 2007

Máquina do Tempo


O dia amanhecera pleno de sol, como que a adivinhar o calor de emoções que se acercava. Ao almoço, o delicioso galo com arroz de cabidela acompanhava na perfeição uma tocante reunião de familiares que não se viam há quase 30 anos. Foi genuína empatia ao primeiro olhar e as 3 décadas de distância estavam desfeitas em 3 minutos, unindo 9 convivas num uníssono de alegrias e boa disposição.

Para a sobremesa, entre outras deliciosas iguarias, a Tia Emília tinha preparado carinhosamente, ao abrigo da frescura do alvorecer, uma gulosa travessa de ovos-moles - os melhores de Portugal, os melhores do mundo. Era o culminar de um almoço memorável a abrir portas a novas emoções.

Faltava deixarmo-nos envolver pela magnitude do automóvel que despertara, através de um blogue na Internet, todo este alvoroço de sentimentos e júbilo: depois do reencontro familiar, íamos dar uma volta num muito acarinhado Octavia Super de 1961, um carro que não sendo o mais belo do seu tempo, é puro charme sobre rodas, transportando-nos imediatamente para uma atmosfera de sensações e elegância muito fora do comum.

O garbo da serena carroçaria bi-color acolhe-nos num interior onde impera a simplicidade e o bom gosto. O conforto proporcionado pelos bancos faz inveja a muitos sofás das mais belas salas de estar do século XXI e o rolamento aveludado do automóvel quase nos faz esquecer que somos transportados por um sedan com quase meio século de idade. Porém, a beleza dos pormenores e o funcionamento imaculado de todos os detalhes não nos permitem desviar a atenção dessa incontornável verdade histórica.

Tínhamos acabado de viver uma experiência inebriante e inolvidável: a aura do Octavia Super de 1961 é avassaladora. Os 46 anos da sua preenchida vida tinham acabado de dar provas de enorme grandeza, transformando este belíssimo automóvel numa inesperada máquina do tempo: tanto desfizera 30 anos de nostalgia, como nos arremessara para um vórtice temporal, transportando-nos entre os anos 60 e a actualidade com a maior das displicências. Tornara-se evidente que este não era um qualquer carro antigo: era um automóvel com uma grande alma - era um Škoda Octavia Super de 1961.

[ilustração: catálogo de época do Skoda Octavia da 1ª geração]

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