sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Skoda Intercontinental

Numa deambulação pela net encontra-se muita coisa. Muito 'lixo', de quando em quando brindado com uma ou outra preciosidade. São essas pérolas que gostamos de trazer para o semlimites.

Em 5 de Agosto de 2008, João Paulo Santos redigiu no seu blogue a deliciosa estória que aqui hoje transcrevemos na íntegra, à qual deu o nome de «O 1000MB». Já passaram dois anos. E agora, o que será feito do magnífico carro do seu Avô? João, se ler este 'seu' post, não deixe de nos contar as 'cenas dos próximos capítulos'.

«Ando há uns meses obcecado com a ideia de reaver o automóvel da vida do meu avô. Trata-se de um Skoda 1000MB de 1965, que está há mais de 10 anos numa oficina de bate-chapas para ser reparado, tendo ali ficado até hoje num relativo esquecimento.

O ZE-30-65 circulou durante 30 anos, fez imensas viagens em 2 continentes diferentes e ficará para todo o sempre nas minhas boas memórias.

Está de tal maneira presente em mim que ainda consigo lembrar-me do cheiro característico que dos seus estofos emanava.

Foi comprado em Moçambique/Lourenço Marques (Maputo) e por lá andou até 1976, altura em que o meu pai o conseguiu enviar para Portugal onde já estavam os meus avós regressados um ano antes e eu acabadinho de chegar. Dentro de uma das grelhas laterais veio escondido algo, um bem (não me consigo lembrar do que seria) que não era permitido trazer da ex-colónia mas que escondido lá passou.

As viagens mais marcantes que fiz neste carro foram as longas idas de Anadia até Lisboa para ir buscar a minha mãe ou o meu pai ao aeroporto da Portela, vindos de Moçambique para umas férias na ex-metrópole. Eram viagens de 7 a 8 horas de duração.

Marcantes foram também as viagens (mais curtas) até à praia da Barra, em Aveiro.

Um pequeno e inocente vício na ternura dos meus 4 anos de idade era simplesmente isto... virava-me sempre para trás... ajoelhava-me no banco traseiro (em 1976 cintos de segurança nem nos bancos da frente eram obrigatórios) e observava tudo o que ia ficando.

Entretanto, desde esse tempo, 3 décadas "voaram", o meu avô já não está entre nós e este vazio será simbolicamente minimizado com o nosso Skoda.

Pedem-me 1500€ pelo trabalho que foi feito e se juntarmos o tempo que esteve parado na oficina até que pode ser um valor justo, não o questiono, apenas não quero pagar tanto e assim lá ando numa negociação que já dura desde há uns meses numa tentativa de o baixar. E não é que começa a dar os seus frutos.

No último telefonema lá consegui arrancar "então homem? afinal quanto é que pode pagar?" - recusei responder dizendo-lhe que os 1.500€ é que não podia ser e que ele descesse ao máximo possível que ia levantar o carro.

Ficou de falar com o filho... fiquei de ligar ontem... ligarei apenas na quarta-feira.»


[foto: catálogo de época]

2 comentários:

joão franco disse...

Alguém sabe desenvolver esta estória..
Consta-me que no final dos anos sessenta, foram encontradas em caixotes de peças skoda, armas dirigidas ao movimento de libertação moçambicano...
Ao contrário de Angola, em Moçambique a marca estava muito bem representada, tendo alguma penetração no mercado local.

semlimites disse...

João, esta outra estória de que nos dá conta parece fazer parte da... história. Se nos puder fornecer mais detalhes ou fontes para investigação, ficaremos naturalmente agradecidos.

Quanto à presença da Skoda nas ex-Colónias é algo sobre o qual, infelizmente, sabemos muito pouco. Porém, em breve publicaremos 2 imagens que recolhemos recentemente sobre o assunto.

Saudações Skodistas, semlimites.