Quando a Volkswagen adquiriu a Škoda deparou-se com uma empresa cuja imagem de marca estava mais do que debilitada – era alvo de chacota e de preconceito. A tarefa não se adivinhava nada fácil, porque não se tratava de construir uma nova marca de raíz: era algo muito mais complexo – era pegar num construtor de automóveis com uma imagem moribunda e invertê-la a 180º, num mercado onde imperavam, a seu bel-prazer, dezenas de construtores com décadas de credenciais de respeitabilidade e bom nome.
Visto de fora só se perspectivava um caminho de fuga para este cenário claustrofóbico: fazer esquecer rapidamente, e a todo o custo, o 'enxovalhado' passado do construtor. Puro engano. A Volkswagen ousou e fez precisamente o contrário – voltou-se para o passado e usou-o com orgulho para reconciliar a Škoda com o futuro. Foi buscar o nome de automóveis de sucesso para baptizar as suas novas criações, utilizou fotos de carros históricos para ilustrar os seus catálogos, difundiu material promocional relatando os feitos de outros tempos, construiu um museu para acolher o seu património ímpar e fez tudo o que pode para mostrar ao mundo que o seu passado ia muito para além daquilo que eram as retalhadas referências que tinham sobejado para o grande público. O resultado foi um sucesso e em países como a República Checa, a Alemanha, a Áustria ou a Itália – para citar apenas alguns – os representantes da marca aderiram rapidamente a este precioso filão promocional, colhendo daí elevados dividendos em termos de visibilidade, honorabilidade e solidez de imagem.
Não estranha pois que a relação que esta marca centenária tem com o seu valioso património histórico desafie as bafientas lógicas que dominam uma boa parte do mundo automóvel. Por isso é com regularidade que vemos peças únicas de museu a abandonarem os imaculados ambientes dos expositores para participarem em competições onde, na dureza das estradas, fazem valer com orgulho os seus preciosos predicados técnicos, estéticos, de performance e de incansável fiabilidade. Neste sentido, é sem surpresa que o semlimites acaba de desvendar, através do portal «Motorsport», que um raríssimo Škoda Sport typ 966 com 57 anos de idade participou, sem receios, na «Le Mans Classics 2006». Mas há mais: o incansável bólide, quase sexagenário, está já inscrito para a prova deste ano, que se realizará nos dias 11,12 e 13 de Julho, naquela que é já uma estrondosa vitória de ousadia, elegância e desportivismo, na mais bela acepção destas palavras.
Com automóveis destes quem pode ter medo da nossa história? Só mesmo aqueles que a não conhecem verdadeiramente. Os mesmos que a pretexto de um novo futuro se deixaram amordaçar por um passado que já não existe.
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