sábado, 28 de janeiro de 2012

Um Favorit a Alta Rotação



João Leonardo e Nuno Costa são dois jovens pilotos de ralis. Entre tantas marcas de automóveis escolheram a Skoda. Entre tantos modelos optaram pelo Favorit 136L. Porque «é robusto e fiável», apanágio da Skoda. Prometem não largar a marca e já preparam uma nova máquina com o apoio técnico do país da Boémia. Além de amarem a competição, adoram o construtor da Seta Alada. 

SEMLIMITES - Como surgiu a equipa, como é constituída e porquê a escolha de um Skoda?
GRALT Corse - A equipa adopta a designação de "GRALT Corse" e é constituída por mim, João Leonardo (Piloto - Licenciado FPAK), 45 anos, Engenheiro Têxtil. Fui director de produção e director da qualidade de empresas do sector automóvel. Até ao ano passado a minha experiência no desporto automóvel como praticante era quase nula, pois embora acompanhasse os ralis do mundial desde muito cedo, até então apenas tinha feito um rali como navegador, no longínquo ano de 1986 - experiência que me despertou o bichinho da competição, para mais tarde tentar regressar, mas agora como piloto.
O Navegador, ou Co-piloto, é o Nuno Costa (também com licença FPAK), tem 36 anos e é empresário do sector de comércio. O Nuno já tinha experiência de competição pois fez, em 2001, dois ralis no então Campeonato de Promoção, a bordo do Skoda Favorit.
A equipa conta ainda, e de um modo particular, com o nosso mecânico de confiança, Marco Gonçalves, da Auto Reparadora de Orgens, para lá de contar, actualmente, com três outros elementos. Por fim, completa-se ainda com alguns amigos que nos acompanham pontualmente nas provas, sempre que tal é necessário e quando a sua disponibilidade o permite.
O Skoda Favorit 136L é o único 136L a correr no nosso país, e é um carro que já fez alguns Ralis de Portugal, então conduzido pelo piloto Miguel Barata e pelas filhas do Veloso Amaral, nas épocas de 2000-2001. Este modelo era o único dessa época que tinha ficha de homologação nos grupos A e N, tendo corrido nas duas versões de 1994 a 1996 com o Miguel Barata, piloto de velocidade que ainda hoje compete. Este Favorit é idêntico aos carros oficiais que Pavel Sibera e Emil Triner trouxeram ao Rali de Portugal e ao Rali "Volta a Portugal - 100 à Hora", e com o qual a Marca foi Campeã Mundial de Grupo N, entre 1991 e 1993. A escolha deste carro deveu-se à classe em que queríamos competir [Classe 1 (1289 cm3)] e também por se tratar de um automóvel muito fiável, factor muito importante para conseguirmos terminar as provas de modo a ganharmos experiência no primeiro ano e, simultaneamente, podermos avaliar o andamento relativamente aos restantes participantes no Open Ralis e no CRRC.



SL - Como surgiu este projecto e como tem sido a experiência recente extraída das vossas participações?
GC - O aparecimento em provas surgiu em 2010, depois de longos anos à espera de uma oportunidade para entrar em ralis como piloto. Como surgiu? Bem, há dois anos restaurei um carro (clássico desportivo) na oficina de um amigo onde, por vezes, também lá aparecia o Nuno que, em conversa, me disse que tinha um Skoda guardado na sua garagem - Skoda esse que eu conhecia bem do tempo em que a dupla feminina o guiava. Esse carro tinha sido vendido ao Nuno e ao seu sócio da altura por um piloto de Castelo Branco e foi com ele que ambos participaram em ralis, em 2000. Bom, dessa conversa verifiquei que a oportunidade estava a passar-me mesmo à frente dos olhos, de onde resultou o meu interesse em ver o carro. Acabei por lho comprar para restauro e, desde logo, fazer o Campeonato Regional, pois tratava-se de um VSH - Veículo Sem Homologação. O Favorit era um carro robusto e bastante fiável no início dos anos 90, razão pela qual considerei ser o carro ideal para começar. Estas virtudes suplantavam claramente o facto do material já começar a ser algo escasso, não se encontrando com a facilidade desejada.
Terminado o restauro, adquiri o material necessário para adaptar o carro à regulamentação actual e inscrevemo-nos no CRRC - Campeonato Regional de Ralis do Centro 2010, com o objectivo de pormos em práctica o que sabíamos ou o que poderíamos andar. Relativamente ao percurso desportivo recente, terminei 11º classificado da geral do CRRC 2010 e o Nuno foi 9º da classificação dos Navegadores. Em 2011 e com a totalidade das provas disputadas, terminámos 7º classificados no CRRC 2011 e terminámos no 26º lugar na classificação reservada aos Condutores - categoria 1 do Campeonato Open de Ralis, sendo 44os. à geral, entre cerca de 180 concorrentes classificados. Este ano também pontuámos no Campeonato Regional de Ralis do Nordeste, onde, infelizmente, apenas disputámos uma prova (Rali de Sabrosa), tendo ficado em 17º do CRRND 2011.

SL- Qual é a reação do público ao ver o Favorit?
GC- O público reage sempre muito bem, apoiando-nos de várias formas. Incentivam-nos a andar mais depressa, sempre a gesticular nas classificativas e a puxar por nós. Há quem não abandone as super-especiais até ver os "tipos do Skoda" passar. Nalguns vídeos do YouTube ouvem-se comentários bastante curiosos à nossa passagem, como, por exemplo, o de uma senhora que, vendo-nos passar numa das classificativas de Mortágua, e em resposta a um homem que dizia que o nosso carro era fraco e que «estes andam pouco», argumentou que até achava bem e que simpatizava connosco. E acrescentou que «quem anda o que pode, já muito faz» e que tomara ela poder estar no nosso lugar.
As pessoas acarinham muito a equipa. Por exemplo, no Rali do Centro do ano passado fomos das equipas mais visitadas no parque de assistência. Uma senhora pediu-nos, inclusivamente, se o filhote de cerca de 5 anos poderia ser fotografado dentro do carro, pois o marido tinha tido um Skoda Favorit.
De uma maneira geral o público e os acompanhantes das Equipas começaram a respeitar-nos, ao verem que o projecto tinha continuado, prova que éramos uns resistentes. Por isso, o que por vezes, nas classificativas de 2010, eram "risinhos maliciosos", transformou-se, em 2011, numa expressão séria e respeitadora, sinónimo de «estes cá andam e é que sabem!!»
No Rali Rota do Medronho de 2011, fomos os primeiros a entrar para o shakedown e fizemos a primeira passagem. Na segunda vez que chegámos ao controlo de partida, encontrámos uns 12 a 15 bombeiros e a comissária do posto, antes de nos dar autorização para partir, disse-nos «Então, estão a gostar? Vocês é que andam a gozar "largo"!! Não fazem ideia da legião de fãs que aqui têm».
É assim que o público nos vê! Sempre com carinho e cada vez mais admiradores da Skoda.


Este projecto assenta nalguns pressupostos que consideramos adequados à actual conjuntura, pois permite-nos efectuar várias provas ou até mesmo campeonatos completos, devido aos custos mais reduzidos que envolvem as nossas participações. Reconhecemos que outros pilotos, mais bem equipados e com investimentos superiores, podem naturalmente conseguir lutar pelas vitórias nas provas, mas também nos temos deparado com projectos onde existe muito investimento e um avultado custo por prova e em que os pilotos, por diversas razões, não conseguem terminá-las e dessa forma também não conseguem disputar campeonatos.
Um dos factores de sucesso do nosso projecto tem a ver com a sua detalhada planificação, através de uma boa preparação das provas, de uma logística rigorosa e também do cuidado que temos com a imagem da Equipa, sem esquecer o retorno que essa imagem pode dar aos nossos patrocinadores. Prova disto são o merchandising e o vestuário da equipa, bem como os suportes de marketing que produzimos após cada prova, explorando ao máximo o retorno que pode ser dado aos nossos patrocinadores.

SL - Quais são os objectivos e as ambições do projecto desportivo da GRALT Corse?
GC - Relativamente aos objectivos e ambições com que participamos no Regional de Ralis Centro, procuramos adaptá-los à conjuntura económica actual e ao impacto que essa conjuntura tem no desporto automóvel. Tal significa que fazer ralis nos dias de hoje apenas é possível se tivermos uma estrutura de baixo custo, que nos permita disputar campeonatos com a possibilidade de fazermos várias provas desse mesmo campeonato, ao longo do ano. Para isso é necessário ter um carro fiável, que permita terminar provas, pois apenas assim se consegue pontuar neste ou em qualquer outro campeonato. Outra das motivações que tínhamos quando começámos em 2010, era também a necessidade de adquirirmos experiência e obtermos um termo de comparação relativamente a outros pilotos e outros carros que já competiam anteriormente na mesma classe. Assim, era necessário terminar as provas e tentar fazê-lo o melhor classificado possível. Se conseguíssemos isso, como era lógico terminaríamos bem classificados à geral no Campeonato, atendendo ao carro e aos meios limitados de que dispúnhamos. Essa é, efectivamente, a nossa postura competitiva e que, até ao momento actual, se tem verificado ser a mais acertada. Basta ver que, conforme referi, este ano a nossa classificação final no CRRC 2011 subiu à 7ª posição, uma melhoria face ao nosso primeiro ano (2010), em que terminámos no 11º posto. Deste modo, ficámos à frente de pilotos mais bem equipados que nós e que contam com investimentos mais elevados, mas que, dada a sua falta de regularidade e à pouca consistência de resultados, ficaram pior classificados. Como, até aqui, as provas do Regional têm coincidido com as provas do Open - bastante concorridas, a avaliar pelo número de inscritos em cada prova, - também terminámos pontuados na 44ª posição, na classificação do COR, entre cerca de 180 concorrentes participantes, teminando em 26º lugar da Categoria 1. Isto acaba por dar mais relevo aos resultados que temos conseguido, fruto da nossa regularidade e da magnífica fiabilidade do nosso Skoda.
Os objectivos e ambições que temos são, pois, materializados na forma como montámos o projecto, recorrendo a um carro fiável e de baixo custo de manutenção - por ser um ex-grupo N -, cujos argumentos principais se baseiam no seu baixo peso e na sua qualidade de construção, e que nos permitem lutar por algumas boas classificações face a outros carros da mesma classe, que possuem argumentos semelhantes aos do Favorit. Recorde-se que o 136L é um dos carros mais antigos a correr em Portugal, já que ronda os 20 anos. Desta forma a nossa motivação é obtida pelo prazer de competir, algo que apenas se consegue disputando vários ralis por ano, dando o nosso melhor e terminando cada etapa, revivendo os ralis tal como eram há alguns anos atrás.
Relativamente a objectivos, pretendemos participar anualmente no maior número de provas possível, não apenas no CRRC mas igualmente noutros campeonatos regionais cujas provas se disputem na proximidade de Viseu, como já este ano sucedeu com a presença no Rali Município de Sabrosa. Actualmente estamos focados em evoluir, após quase dois anos de provas com o Favorit, para um carro mais potente e capaz de lutar por lugares mais acima na classificação, automóvel que estamos a construir e cuja estreia se prevê que aconteça na primeira prova de 2012. Numa altura em que muito se fala do regresso dos ralis ao formato antigo, com provas mais longas, estamos convictos que teremos um carro mais adaptado a esse tipo de provas. Se esta evolução se vier a confirmar, gostaríamos de vir a disputar o Rali de Portugal com este carro, onde reuniremos, seguramente, argumentos para uma boa classificação final.

SL- Numa época de conjuntura desfavorável, quais os apoios de que a Equipa dispõe, permitindo levar a cabo as suas participações e a presença em várias provas?
GC - Relativamente a apoios, a GRALT Corse enquadra-se na conjuntura actual vivida no desporto automóvel, uma vez que apenas dispõe de alguns magros patrocínios que, prova a prova, vai conseguindo angariar. Esses patrocínios surgem da mais variada forma e muitos resultam do apoio prestado por empresas de amigos, que facilitam alguns aspectos da logística e do marketing internos da equipa. Sem esses apoios não seria possível montar um projecto para participar em campeonatos, pois muitos deles, não sendo pecuniários, representam ajudas importantes, como são os casos da Tipografia Beira Alta, da Rodaclássica, da GO TALENT, e de algumas empresas da região Dão Lafões, como a AUTOJAC, que recentemente nos tem dado apoio técnico na preparação do nosso carro. Paralelamente, contamos ainda com a ajuda de um conjunto de outra empresas, sem as quais as dificuldades seriam maiores. No entanto também temos conseguido, com bastante trabalho e alguma logística interna, angariar alguns apoios económicos, que desde logo agradecemos, a maior parte deles de empresas de fora de Viseu, e é com esses apoios que temos conseguido dar corpo às nossas participações.
Naturalmente que se tivéssemos mais patrocinadores o seu apoio seria bem-vindo e isso permitir-nos-ia pensar noutros meios, em maiores ambições e em resultados desportivos superiores. É uma pena que algumas empresas não se apercebam do retorno mediático proporcionado pelo desporto automóvel, até porque o Skoda Favorit é um carro que suscita bastante carinho e atenção por parte do público, como testemunhamos em todas as provas, pois é um carro com carisma e história. Também lamentamos o facto de, até à data, não haver, da parte de algum concessionário ou mesmo do importador, o interesse em se associarem a este projecto, tendo em conta que o carro é actualmente um dos poucos Skoda em actividade nos ralis em Portugal. Mais, dentro de alguns anos o 136L poderá permitir-nos disputar ralis como veículo de competição clássico.
O Skoda Favorit poderá não ser, actualmente, o carro mais competitivo para discutir campeonatos, mas é muito fiável e, ao terminar regularmente as provas em que participa, proporciona o máximo de retorno a todos os patrocinadores que apoiam a nossa Equipa. Essa é, aliás, a primeira das nossas preocupações, sendo que a visibilidade assegurada pela importância do Campeonato Regional de Ralis do Centro, cujas cinco provas coincidem com provas dos dois maiores campeonatos de ralis que existem em Portugal, é garantia de assistência pelo público mais entusiasta, com o acréscimo de terem cobertura televisiva. Assim, esperamos que novos apoios possam vir a ser uma realidade a curto prazo, algo que nos permitará encarar as provas com outras ambições desportivas.


SL - Como correram as últimas participações da Equipa este ano?
GC - Pode-se dizer que correram da melhor forma possível, pois participámos no Rali de Mortágua 2011 - que foi a última prova do Campeonato Regional de Ralis do Centro -, inscritos simultaneamente na Taça de Portugal de Ralis, de modo a podermos pontuar em ambas as competições. Deste modo, ao cumprirmos a totalidade do Rali, proporcionámos maior retorno aos nossos patrocinadores, já  que participámos nos dois dias de prova (22 e 23 de Outubro). Nessa prova, definimos, à partida, que o resultado a alcançar seria tão simplesmente repetir o 3º lugar na Classe 1, tal como obtido no ano anterior. E conseguimos ser fiéis a esse princípio, pois concluímos o primeiro dia classificados no 3º lugar da Classe, no Campeonato Regional do Centro, o que nos garantiu mais um troféu, repetindo assim o pódio do ano transacto. De seguida, inscrevemo-nos na última prova do Campeonato Open de Ralis  - o Rali de Vila Real -, não só pela proximidade, mas também na  perspectiva de melhorarmos a nossa classificação nessa competição. Cumulativamente, e uma vez que o Rali contava ainda para o Campeonato Regional de Ralis do Nordeste, inscrevemo-nos também nessa vertente, o que nos permitiria ainda subir a nossa pontuação nesse campeonato.  Lamentavelmente, o Rali foi cancelado pela organização, a uma semana da prova, alegando-se uma reduzida lista de inscritos.

SL - Dos projectos em curso para a temporada deste ano, há já alguma "ponta do véu" que se possa levantar?
GC - Sim. Para este ano os objectivos serão, à partida, um pouco mais ambiciosos. Estamos a preparar um carro mais competitivo, que pretendemos estrear, se possível, logo na primeira prova do Campeonato Regional Centro 2012. No entanto, e uma vez que estamos ainda na fase de construção do carro, não conseguimos ainda confirmar se a estreia decorrerá, efectivamente, nessa prova. Será no entanto um carro que "dará que falar" e que poderá ser inscrito quer na classe 1, quer na 2, segundo a motorização utilizada. Está a ser construído em colaboração com um preparador da Região de Lafões e com o apoio técnico de uma estrutura de competição estrangeira, que detém muita experiência na utilização deste modelo em competição. Esperamos que, com este novo carro, possamos subir um pouco na classificação das provas em que viermos a participar, ainda que só durante a temporada possamos equacionar as nossas participações, sobretudo em função dos apoios entretanto conseguidos e também de outros cenários, em particular da disponibilidade profissional de ambos os elementos da Equipa.

SL - É também um Skoda?
GC -Sim e como disse vai dar que falar. É um grande projecto.

SL– E numa época de constrangimento económico, o que prevêem para a próxima época?
GC - Nada de bom para o desporto automóvel e para os ralis em particular, seguramente!! Aliás, a recente anulação, durante 2011, de algumas provas, já vinha alertando para as dificuldades com que se deparam os organizadores, que procurarão continuar a reflectir nos “palhaços do circo” - os pilotos -, os custos elevados das suas provas. Tudo isto numa altura em que as fontes de financiamento dos Clubes têm vindo a secar, por fadiga e por falta de verbas das instituições que mais têm apoiado essas organização, como são os Municípios. O grande problema é que os pilotos também começam a sentir as dificuldades inerentes aos custos crescentes de participação e, não havendo boa vontade por parte de todos os envolvidos neste desporto, rapidamente diminuirão as listas de inscritos. Note-se que, tal como é o nosso caso, muito do dinheiro investido nas participações é proveniente dos pilotos, aos quais se junta algum apoio, monetário ou não, angariado junto de patrocinadores. Porém, também aqui começa a tornar-se difícil, dado o momento que a maior parte das empresas do país está a passar. Se juntarmos a isto o total desinteresse das marcas neste desporto, é fácil percebermos para onde tudo isto caminha e, seguramente, não é para melhorar. Senão veja-se o nosso caso, em que há cerca de dois anos andamos a tentar chamar a atenção de diversos Concessionários da marca Skoda e até do próprio Importador, sem quaisquer resultados, ainda que reconheçam alguma visibilidade ao projecto. Apesar de tentativas feitas junto de vários Concessionários, nunca obtivemos a vontade de avançarem sem o apoio do Importador e, naturalmente, da parte deste também não colhemos ajuda. O automobilismo é um desporto de proximidade e, se pensarmos que a publicidade da maioria dos nossos apoios permanece afixada no carro em todas as provas da época, é fácil percebermos a visibilidade daí decorrente. Claro que, com tão magro investimento de uma marca, dificilmente se poderá retirar um bom retorno.
Provavelmente estaremos "a pagar a factura" do tempo em que marcas como a Skoda faziam correr em Portugal alguns pilotos com orçamentos demasiado grandes para o nível de desenvolvimento dos seus projectos e, sobretudo, para os magros resultados que proporcionavam. Por essa razão, os departamentos de marketing continuam com alguma relutância em apoiar Equipas, ou por não conseguirem quantificar o retorno esperado, ou por, quando o conseguem fazer, verificarem que nalguns casos "a história foi má". Ou, ainda, por tão pouco saberem avaliar e valorizar projectos bem estruturados, que são consistentes e que, dessa, forma, são garantia de visibilidade. Como é amplamente sabido, apoiar recordações e glórias passadas também ajuda a vender automóveis. Neste contexto, não gostariamos de pensar que, hoje, algumas marcas optassem por recolher dividendos provenientes da carolice dos pilotos que ainda vão correndo com carros da sua marca, algo que se verifica suceder numa lógica local, onde os Concessionários da zona onde se realizam os ralis não têm sequer interesse em apoiar, pelo menos pontualmente, aqueles que defendem as suas cores - ainda que fosse com um valor simbólico!!
O mais caricato de tudo isto é pensarmos que, nalguns dos casos em que existem envolvimentos oficiais das marcas em campeonatos internacionais, apoiando um ou outro piloto que as representa - por vezes até, sem grandes resultados -, os valores investidos nesses projectos dariam para colocar a correr quatro ou cinco pilotos num qualquer campeonato nacional, com um mínimo de condições e com garantias de um retorno mais do que assegurado para os seus negócios. Naturalmente que isto revitalizaria qualquer campeonato ou, de uma maneira geral, o desporto automóvel. Se pensarmos no âmbito do Open ou nos Regionais, seguramente que isto daria para oito ou dez pilotos desenvolverem os seus projectos de forma mais firme e, consequentemente, mais estável e competitiva.
Para a próxima época, e no quadro de instabilidade económica, iremos tentar novamente fazer todas as provas do campeonato, com excepção daquelas em que, pontualmente, não consigamos reunir, ou com dinheiros próprios ou com patrocínios, os montantes necessários para as realizar. Numa altura em que não haverá marcas directamente envolvidas e que os custos das provas disparam, não seria de estranhar que surgissem muito poucos inscritos, mais para competirem contra si próprios do que para se porem à prova face a terceiros, à procura de competitividade, que é o verdadeiro condimento deste desporto. Por isso, será de esperar que, tal como sem «ovos não se fazem omeletas», também sem patrocínios será difícil completar campeonatos, diminuindo o interesse para todos aqueles que neles intervêm.
Esperemos, no entanto, que os amigos - aqueles que não nos dão dinheiro, mas dão-nos o almoço ou o pneu usado para o acabarmos de gastar e o desempeno da jante partida ou a assistência técnica a troco de umas minis, - nos continuem a "aturar" e a permitir viver esta paixão pelo desporto automóvel. Também, no dia em que isso deixar de acontecer, terminará sem glória este desporto que amamos!!!

[fotografias cedidas gentilmente pela equipa GRANT Corse]

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