quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Matemática 'Sexy'

O sítio checo «Actuálne.cz», por intermédio do jornalista Radek Pecaka, entrevistou Jozef Kabaň – prestigiado chefe do Departamento de Design da Škoda -, cuja assinatura se revê no Bugatti Vyron e numa série de outras criações com a chancela da Audi. Em breve deverão começar a ser conhecidos projetos com a chancela da Seta Alada integralmente concebidos sob a sua direção. Pelo interesse dos conteúdos publicados, arriscámos uma tradução livre dos textos, com recurso às ferramentas do Google. Julgamos que valeu a pena.


Actuálne.cz: De que forma a crise afetou os requisitos do design?
Jozef Kabaň: No nosso caso, de forma mínima. Os automóveis Škoda não são apenas atrativos, mas baseiam-se de igual modo em pressupostos racionais. Nos nossos automóveis não temos nada de irracional, desnecessário ou decorativo.

A.cz: Então não haverá nada a merecer alterações profundas?
JK: Apesar da crise, a Škoda tem tido um bom desempenho, uma vez que tem produtos de sucesso. O que não invalida que não olhemos constantemente para trás para ver se atingimos sempre os desejados patamares de qualidade. Para mim, qualidade significa preço. E chegámos a um ponto em que isto é mais importante do que nunca. Isto não significa que seguiremos a via dos carros baratos. De modo contrário, seguiremos um caminho de maior caráter, atrativo, de alta qualidade, fiabilidade e segurança, mas que perseguirá ainda mais uma aproximação aos clientes pela via do binómio custos-benefícios.

A.cz: A Škoda tem, desde setembro passado, um novo Presidente. Já conhecia as opiniões do Sr. Vahland sobre o design dos automóveis Škoda, antes da sua entrada oficial ao serviço da marca?
JK: Conheci pessoalmente o Sr. Vahland alguns meses antes da sua chegada oficial e fiquei muito satisfeito pela sua apreciação do nosso trabalho. O Sr. Vahland é uma pessoa orientada por uma visão global das questões e é um excelente estratega. É uma pessoa com quem se tem enorme honra e prazer em trabalhar. E não falo apenas ao nível do design, mas também na construção de estratégias baseadas na sua perspetiva pessoal. Neste sentido, a comunicação entre a Direção da empresa e o Departamento de Design tem sido de importância capital. Deste modo, temos falado sobre imensos temas futuros e posso dizer que desde o início tivemos sempre o seu inteiro apoio.

A.cz: Então não tem razões para lamentar a sua passagem de marcas como a Bugatti ou a Audi para a Škoda?
JK: De modo algum. Antes pelo contrário. A Škoda é uma marca atrativa, de sucesso, para a qual sempre desejei trabalhar. Neste sentido, estou convencido que não me poderia ter mudado em melhor altura do que esta. A Škoda é uma empresa que faz sucesso pela forma como sabe lidar com as limitações impostas pelas pressões dos preços. E daqui abrem-se ótimas oportunidades para conceber coisas novas, ainda mais interessantes.

A.cz: Há já bastante tempo que a grelha dos Škodas é, na sua essência, a mesma. Haverá em breve novidades neste aspeto, no que toca aos novos modelos?
JK: Haverá novidades à frente, da mesma forma em que haverá evoluções nas restantes partes dos automóveis. Porém, será importante que as alterações sejam progressivamente adotadas em toda a gama. Terá que ser claro que os automóveis Škoda fazem parte da mesma família, embora cada carro possa ter o seu caráter próprio. Posso dizer, por exemplo, que os elementos verticais da grelha permanecerão no futuro. Aos elementos tradicionais da marca imprimiremos maior maturidade, mas também introduziremos elementos completamente novos.

A.cz: Gostaria de fazer um Škoda Concept que indicasse a direção do desenvolvimento em curso?
JK: Sim, gostava. Mas isso terá que esperar. Neste momento estamos a trabalhar em projetos que não irão apenas embelezar os salões, mas também os nossos concessionários. Tal como acontece com o Yeti. Para mim, este automóvel é o atual ícone da Škoda. O Yeti é um belíssimo exemplo de como se pode combinar o racional com o emocional. É o modelo exato para o seu segmento. Tem o tamanho, o caráter e o charme certos. Será um produto de enorme sucesso.

A.cz: Sabe-se já que a Škoda terá um pequeno citadino e um automóvel acessível no segmento médio inferior. A expansão da gama de modelos é para continuar ou a mesma será travada pela crise?
JK: Nós queremos crescer e para tal teremos que ampliar a nossa gama. Faremos de tudo um pouco no que concerne a automóveis para as famílias. Neste âmbito, a ampliação far-se-á nos segmentos onde ainda não estamos presentes.

A.cz: Há já algum tempo que se fala no desenvolvimento de modelos específicos para os mercados da Índia e da China. Será assim?
JK: As diferenças entre os Octavias fabricados em Mladá Boleslav, na China ou na Rússia são mínimas, em termos de design. E tecnicamente estes automóveis são igualmente muito similares. Contudo, verifica-se que as necessidades no que diz respeito a questões técnicas variam bastante nos diversos mercados e chegámos a um ponto em que já não se justificam respostas de compromisso para satisfazer os nossos clientes de todo o mundo. Tornou-se claro que terá que haver uma divisão de produtos, mantendo inalterados, naturalmente, o caráter e a qualidade da marca.

A.cz: E esses projectos já se iniciaram?
JK: Sim, estão a ser preparados. Nalguns segmentos iremos propor diferenças entre versões, noutros iremos mais longe. Mas alguns produtos continuarão a ser globais.

A.cz: O mercado tem acolhido uma série de automóveis híbridos e, lentamente, verifica-se o crescimento dos carros elétricos. Acha que estes novos tipos de propulsão irão afetar o design dos automóveis?
JK: Nunca poderemos estar apenas focados numa única direção. Veja o exemplo da eletrónica a bordo – já utilizámos cassetes, depois os CD's e agora recorremos a cartões de memória. É claro que isto afeta o design, conforma-o. Na indústria automóvel o mais importante são as pessoas e o design baseia-se inevitavelmente na ergonomia e na funcionalidade. Em termos de aspeto, este evoluirá em função das necessidades e dos gostos das pessoas no futuro.

A.cz: Julga que a direção tomada com o Nissan Leaf será a via a adotar em termos de design automóvel? Parece um carro um pouco diferente dos atuais automóveis 'standard'.
JK: Concetualmente, sim, embora talvez não seja um exemplo particularmente bem proporcionado. Na fase que atravessamos não será fácil que haja alterações profundas no que diz respeito ao design de automóveis, dada a preponderância dada à ergonomia, à aerodinâmica, à funcionalidade e até à legislação, sem esquecer as exigências de segurança em crash-tests. Eu diria que os automóveis são matemática levada ao limite, embora de aparência sexy.

A.cz: As novas tecnologias oferecem novas opções em termos de design?
JK: Sim, claro. Sem elas reduzir-se-ia o espetro de possibilidades. As novas tecnologias são elementos de suporte essenciais e também fonte de inspiração e um desafio para a conceção. São como uma musa para a evolução do design.

Mais informações em: http://auto.aktualne.centrum.cz
 
[foto: Skoda Auto]

Esta entrevista foi redigida ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990, oficialmente em vigor em Portugal desde 13 de maio de 2009.

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