«Os Pequenos Estão de Volta»

A edição 994 do AutoHoje dá destaque à nova família de citadinos que deverá nascer no seio do Grupo VW. Sob o título «Os Pequenos Estão de Volta», a capa mostra-nos antevisões dos futuros Lupo Cabrio, VW Samba e SEAT Arosa. Quanto à variante Skoda, no que a honras de capa concerne, nem uma menção escrita.

No interior, uma [parca] referência à proposta da fábrica de Mladá Boleslav, remetida para uma caixa partilhada com o projecto da SEAT, é ilustrada por uma fotomontagem relativa a cada um destes dois construtores. Ora, assim sendo, não foi por falta de imagens que o pequeno Skoda não figurou na face da publicação desta semana. Então porque será?

Devido ao título? Poderá dizer-se que «Os Pequenos Estão de Volta» pressupõe que o artigo foque essencialmente o regresso dos já desaparecidos VW Lupo e SEAT Arosa. Se assim fosse, então dar destaque ao VW Samba na capa seria uma incongruência tão grande como fazê-lo com a foto do mini Skoda que aí vem, porque nenhum dos 2 modelos tem antecedentes directos. E se alguém mais rocambolesco quiser justificar a opção pela foto do Samba com o 'regresso' do icónico Pão-de-Forma, então, nessa linha de pensamento, seria igualmente lícito reclamar o 'regresso' do Joyster - o ensaio de um citadino assinado pela Skoda, cuja passagem à produção chegou a ser equacionada nos 'quartéis' de Mladá Boleslav.* Com uma atenuante para a Skoda: é que o Joyster é efectivamente 'pequeno', coisa que ninguém poderá dizer do furgão lançado pela VW há mais de 60 anos.

Noutra perspectiva, poderia afirmar-se, com justiça, que as vendas da Volkswagen e da SEAT em Portugal são bastante superiores às da Skoda, justificando-se assim o destaque dado na capa às já mencionadas propostas em detrimento de um construtor que, à presente data, tem um menor peso nas vendas de veículos novos no nosso país. Sendo uma saída possível, esse argumento cai imediatamente por terra quando, com toda a propriedade, o AutoHoje dá provas de que não escolhe os seus destaques em função das vendas nacionais, como é consubstanciado, por exemplo, com o Porsche Panamera, na própria capa desta edição.

Será por questões de enquadramento estético? Seria outro argumento válido, mas num meio de comunicação social credível, as opções estéticas têm que ser coerentes com a linha editorial do projecto. E aqui entramos numa questão muito sensível: é que o 'desenho' da capa desta edição não é um caso isolado, ganhando peso num contexto impregnado de situações similares, onde a sucessão de eventuais 'meras coincidências' começa a soar de forma muito pouco consistente.

Basta olharmos para a capa da semana passada para vermos que o vencedor do Master-Test International – o Skoda Fabia – só aparece na foto de conjunto, não sendo nenhum dos automóveis em destaque. Poder-se-ia dizer que os Editores tinham dado maior relevância às propostas acabadas de sair no mercado, para se perceber que o teste já as tinha tido em consideração. Mas se assim fosse, o que dizer do destaque dado ao 207, um automóvel que entrou no mercado cerca de um ano antes do Fabia? Não seria natural, para não dizer evidente, destacar o vencedor?

O mesmo sucedeu na edição online, onde na sucessão de 10 [dez!] fotografias apresentadas, o Fabia só volta a figurar na foto de conjunto, sendo depois apresentados retratos das propostas da FIAT, Honda, Mazda, Opel, Peugeot, SEAT, Toyota e Volkswagen. Ou seja dos 11 automóveis levados a 'concurso' só 3 não tiveram direito a foto de 'relevo' – curiosamente os 3 primeiros classificados. É no mínimo estranho, não é?

Podíamos ainda referir outros exemplos gritantes, mas julgamos que os factos apresentados são por demais evidentes.

Neste momento só se vislumbram duas justificações para o sucedido: ou tudo isto é fruto de um muito infeliz acaso, e todas estas coincidências decorrem de uma muito madrasta casuística – sendo que, se assim for, a linha editorial do AutoHoje está em plena auto-gestão, não havendo controlo sobre o que se faz, o que põe em causa os elevados pergaminhos do jornal -, ou então ganha força a hipótese de tudo isto ser deliberado, abrindo-se um perigoso caminho à parcialidade e ao sectarismo, o que revelaria uma pequenez de pensamento que, em momento algum, queremos associar a esta publicação de prestígio.

Num projecto editorial com grandes profissionais, será que é caso para pensarmos que «os pequenos estão de volta»?

Mais informações na edição nº 994 do AutoHoje, datada de 28 de Novembro de 2008.

*[Convém lembrar que quando o protótipo do VW Up! foi apresentado, o Grupo prometeu derivações com a assinatura da VW, da Skoda e da SEAT baseadas numa nova plataforma com motor e tracção traseiros. Ficava assim remetido para a gaveta o ensaio da marca da Seta Alada, que assentava numa plataforma mais convencional, com engenho e tracção dianteiras. Afinal, veio mais tarde provar-se que o caminho preconizado pela Skoda era o mais correcto, de forma a garantirem-se preços de aquisição mais atractivos para o consumidor final.]

[imagem: AutoHoje / extraída do sítio www.autohoje.com]